Para alguns hoje é dia de celebrar o Halloween, para outros dia 31 de Outubro é dia do Saci, mas se você, assim como nós, não está muito preocupado com o motivo apenas com a celebração em si, que tal aproveitar o que parece ser “o dia mundial da abóbora” para comemorar com uma Pumpkin Ale? Por aqui vamos celebrar com a Pesadelo, nossa cerveja artesanal feita com abóbora, pimenta da jamaica, noz-moscada e canela.
Nossa última brassagem foi absolutamente mais tranquila que a primeira, repetimos a receita com uma pequena alteração, dessa vez colocamos a abóbora dentro de um grain bag antes de adiciona-la a panela cheia de malte de cevada. Além disso, entre a primeira brassagem e essa alteramos algumas partes do nosso equipamento, dentre elas o filtro, grande responsável por toda a dor de cabeça na primeira ocasião, o novo filtro se comporta muito melhor que o seu antecessor o que facilita bastante as coisas.
Engarrafamos a cerveja direto do postmix ontem, por isso hoje as garrafas já podem participar da festa.A Pesadelo foi uma das cervejas feitas nas panelas da Cerveja Monstro que mais recebeu elogios, por isso nada mais justo que ser uma das primeiras a ganhar uma cara (rótulo).
A pedida de hoje é cerveja artesanal de abóbora! Tente encontrar a sua, tem diversos exemplos espalhados pelo Brasil, nacionais e importadas. E se você não conseguir encontrar sua garrafa, está na hora de considerar a hipótese de fazer a sua própria cerveja!
Fazer essa cerveja artesanal com abóbora, pimenta da jamaica, canela e noz moscada foi ótimo por vários motivos, primeiro porque essa foi minha primeira experiência com cerveja caseira “alternativa” (com ingredientes pouco usuais), segundo porque o processo de produção deu muitíssimo trabalho e acabei aprendendo um bocado com isso, e por último, talvez o mais importante, o resultado dessa pumpkin ale ficou sensacional e a receptividade entre as pessoas que provaram foi incrível, incluindo aquelas que diziam “não gostar de cerveja”.
A nossa pumpkin ale (ale de abóbora) ganhou o nome Pesadelo porque deu um puta muito trabalho durante a brassagem, mas todo aquele esforço valeu a pena, alguns amigos (as) provaram e de pronto disseram “nossa, lembra doce de abóbora”, essa era a meta para a minha cerveja de abóbora e confesso que fiquei muito feliz em ter atingido esse objetivo logo na primeira tentativa.
O aroma das especiarias é o destaque dessa ale, ele está presente de forma agradável, remetendo ao doce de abóbora. O corpo da cerveja é médio com colarinho branco e persistente, é possível notar uma certa turbidez, que já era esperada considerando a brassagem caótica como foi. Com teor alcoólico de 4,7% e aproximadamente 35IBUs a cerveja apresenta algo ligeiramente adocicado que junto do amargor do lúpulo consegue o equilíbrio necessário para uma ale nem muito doce nem muito amarga. A presença da abóbora é sutil tanto no aroma quanto no sabor e esse é o ponto em que vou trabalhar para a próxima versão, quero a abóbora mais presente, talvez eu tente usa-la também na fervura, ou quem sabe na maturação? Preciso pesquisar a respeito.
Muita gente tem me cobrado a repetição dessa receita, mas confesso que pensar em todo o trabalho que tive para produzir a primeira me deixa um pouco desmotivado, por isso eu realmente gostaria de aprimorar o processo de produção para sofrer um pouco menos na próxima brassagem.
A parte boa disso tudo é que o resultado da Pesadelo foi tão legal que mesmo vislumbrando algumas horas de “sofrimento” adiante, já decidi repetir a receita. Bom para todo mundo, não?
É curioso ver a reação das pessoas ao ouvirem que você fez uma cerveja com abóbora, no geral demonstram certo ceticismo mas sempre se interessam em provar. Obviamente as reações se dividem entre os que torcem ou não o nariz e isso me parece estar diretamente ligado ao fato de gostar ou não de abóbora.
Depois das primeiras reações relacionadas a equação: “cerveja + abóbora = (?)”, notei que é ainda pior quando menciono os outros ingredientes especiais adicionados a receita (canela, noz moscada e pimenta da Jamaica), a partir desse momento quase ninguém deixa de fazer cara de interrogação “oi? pimenta da Jamaica?”
Essa história de misturar cerveja e abóbora não é invenção minha, alguns cervejeiros aqui do Brasil já fazem esse tipo de cerveja, mas minha inspiração veio dos Estados Unidos, país em que a cultura homebrewer é mais difundida e que a meu ver tem uma ligação com abóbora maior que a nossa, o Halloween é um bom exemplo disso.
Pumpkin Ale é uma cerveja sazonal, tipicamente feita com ingredientes que visam atribuir um sabor semelhante ao de torta de abóbora (sobremesa típica dos EUA), por isso pouco lúpulo é utilizado em sua receita, tanto para amargor quanto para aroma, já que o ideal é que a abóbora e as especiarias utilizadas se destaquem.
Boa parte do que pesquisei para criar minha versão foi em blogs e fóruns gringos, mas também recebi alguma ajuda de cervejeiros daqui. Como não existe unanimidade em processos e até mesmo nos ingredientes utilizados, desencanei e decidi tentar fazer e ver no que ia dar.
Lá fora alguns usam abóbora in natura enquanto outros usam o purê de abóbora enlatado, como não me recordo de alguma vez ter visto essas latas em gôndolas por aqui, não me restou outra opção, usei abóbora fresca. Precisei pedir ajuda para minha mãe, eu nunca comprei uma abóbora, poucos dias depois de conversarmos ela apareceu com uma pesando pouco mais de 4kg, exatamente o que precisava.
Uma das poucas informações que convergiam a respeito da brassagem dessa receita eram os problemas relacionados a filtragem, alguns cervejeiros tiveram seus sistemas de filtragem completamente entupidos e por isso recomendavam fortemente a utilização de palha de arroz para agir como elemento filtrante ou até mesmo adicionar a abóbora somente na fervura. Mesmo ciente disso decidi encarar sem palha de arroz, já que também tinha lido muitos relatos sobre as dificuldades de se produzir cervejas de trigo e não tive grandes problemas quando as fiz.
O primeiro passo foi colocar a abóbora para assar, a cortei em 8 pedaços e deixei em fogo médio/baixo por cerca de duas horas, até que a poupa estivesse macia o bastante para se soltar da casca (com a ajuda de uma colher) e formar um purê, enquanto isso fui buscar canela, noz moscada e pimenta da jamaica na feira-livre e fiz a moagem dos grãos.
A mosturação ocorreu conforme planejado, e com um delicioso cheiro de doce de abóbora, em seguida comecei a filtragem, e foi aqui que começaram os meus problemas. Quando comecei a recircular o mosto notei que a vazão começou a diminuir, então decidi passar mais rápido por essa etapa, não rolou! demorei muito tempo para conseguir tirar o mosto da panela, cerca de duas vezes o tempo normal de toda a filtragem e ainda faltava a lavagem dos grãos que, para o meu desalento, literalmente se tornou caótica, o purê de abóbora ao se misturar com o mosto formou uma gosma algo viscoso que entupiu completamente o fundo falso, travando a filtragem.
A solução foi mexer vigorosamente os grãos junto de toda a água da lavagem, esquecer a recirculação, usar um peneira de inox (dessas de cozinha) para evitar que alguma partícula maior fosse levada para a fervura e torcer para que eu tivesse conseguido extrair açucares o bastante para que pudesse obter cerveja no final de todo o processo.
Depois de ter assimilado a ideia de que a filtragem praticamente não existiu e uma das consequências disso seria uma cerveja completamente turva, iniciei a fervura normalmente, adicionei os lupúlos, whirlfloc e especiarias conforme o programado e mais uma vez fui surpreendido por um aroma delicioso, que mal pude aproveitar porque estava completamente esgotado, nenhuma outra cerveja tinha demandado tanto trabalho.
Quando pensei essa receita decidi incluir aveia para atribuir certa cremosidade além de fazer a sacarificação em temperatura alta para que a cerveja fosse bem encorpada. Minha OG estimada era de 1,053 e pós fervura obtive 1,046, sinceramente esperava algo pior, e após 3 semanas de fermentação / maturação a engarrafei utilizando açúcar mascavo.
Depois de todo o trabalho e a ligação de abóbora com o Halloween, decidi que Pesadelo seria um ótimo nome para essa cerveja.
Pumpkin Ale Pesadelo (receita para 20 litros)
4kg de malte Pilsner
0,5Kg de aveia em flocos
0,35Kg de malte Vienna
4Kg de abóbora
15g Hallertau Herkules (60 mins)
10g Saphir (20 mins)
1 whirlfloc (15 mins)
15g Canela em pó (1 min)
10g Noz moscada moída (1 min)
10 pimenta da jamaica moída (1 min)
Levedura Lallemand Nottingham Yeast
As rampas foram:
30min a 50C
45min a 67C
10min a 76C
Os lúpulos, whirlfloc e as especiarias foram adicionados durante a fervura, respeitando seus respectivos tempos, sendo que as especiarias foram adicionadas ao mosto utilizando uma “hop bag”. A temperatura de fermentação foi de 19C.
As festas de final de ano já estão chegando e acho que esse é um bom momento para degustar a Pesadelo.