Witbier Monstro com novo fermento

Cerveja de trigo não maltado com especiarias (coentro e raspas de laranja)
Cerveja de trigo não maltado com especiarias (sementes de coentro e raspas de laranja).

Voltamos! Tem várias coisas legais acontecendo aqui na Cerveja Monstro, uma delas é um teste na nossa cerveja de trigo belga, a Witibier Monstro. Não que exista um problema com a nossa Wit, ela é ótima, mas achamos que fazer cerveja artesanal é experimentar coisas novas o tempo todo, tudo em busca da cerveja perfeita.
Bom, decidimos experimentar a Belgian Wit – SY067 da Bio4 no lugar da Safbrew T58, essa foi a única alteração em nossa tradicional receita, como não conhecíamos o comportamento dessa levedura fermentamos a 21C, o fabricante recomenda fermentar entre 16C e 24C, achamos que esse era um chute inicial razoável já que gostaríamos de ressaltar as características do fermento na cerveja.

Partimos para a fermentação com a densidade inicial do mosto de 1.046SG, adicionamos a levedura e nos primeiros dias vazou bastante mosto pelo blow off tube, toda a sujeira poderia ter sido evitada se tivéssemos atentado ao aviso no site do fabricante, que diz: “Esta linhagem de levedura, por ser uma levedura de alta fermentação, necessita que tenha um espaço vazio maior no fermentador.”. Nove dias depois de adicionarmos a levedura a densidade ainda era 1.021SG, era possível observar alguma atividade no Blow Off tube (bolhas de CO2). Em uma comparação direta, o T58 tende a ser mais rápido, sua fermentação violenta já teria terminado o serviço nos mesmo nove dias.

Com duas semanas a fermentação estacionou em 1.015SG e começamos a reduzir a temperatura para decantar o fermento e partir para a carbonatação. A cerveja ficou com graduação alcoólica de 4,1%, e as características do fermento estavam evidentes, até demais, sabor e aroma forte presentes. Isso talvez seja explicado pela temperatura de fermentação 21C, provavelmente chutamos alto demais.

Nesse primeiro teste o Belgian Wit – SY067 se mostrou um pouco mais lento e demandou mais espaço livre no fermentador que o Safbrew – T58. Além disso, tivemos uma atenuação menor dessa vez, mas todas as nossas conclusões não foram obtidas com um experimento devidamente controlado, a atenuação menor pode ter diversas outras origens, baixa oxigenação do mosto é uma das hipóteses, portanto, nossas conclusões não devem ser encaradas como verdades sobre o SY067, e é exatamente por isso queremos usar novamente essa levedura para melhor entendermos seu comportamento, portanto, em breve tem mais wit por aqui. ( :

Um abraço,
Cerveja Monstro.

Nem só de alegrias vive o cervejeiro caseiro – Witbier desandou

Cerveja artesanal que desandou.
Cerveja artesanal que desandou.

Sim, infelizmente é verdade, nem só de alegrias vive um cervejeiro caseiro. O grande barato de fazer cerveja em casa é poder experimentar coisas novas, fazer gambiarras improvisar equipamentos e processos, criar receitas ou usar ingredientes pouco usuais. Bom, tudo isso tem um risco e a menos que você seja algum tipo de suicida ou estagiário de terrorista da área bioquímica, esse risco se resume a possibilidade de sua preciosa cerveja artesanal dar errado, infelizmente isso aconteceu comigo.

Como dizem alguns: “cedo ou tarde você vai perder uma leva”,  vocês se recordam da minha experiência “belgo-tailandesa”? uma Witibier com folhas de limão kaffir ? Então, ela foi a minha primeira cerveja a desandar, provavelmente por contaminação durante o processo de produção. Agora o que me resta a fazer é olhar para o passado e rever todos os pontos na tentativa de identificar a origem do que deu errado e evitar que volte a acontecer no futuro.
Como eu sempre provo as amostras que retiro durante o processo eu já havia notado algo irregular ao término da fermentação e mesmo assim decidi levar tudo para o postmix (barril) e carbonatar a cerveja. Quando finalmente a provei, não tive dúvidas de que ela havia desandado, a cerveja estava aguada,  estranha, não tinha corpo de cerveja, a textura era bem diferente das cervejas de trigo que eu já havia produzido e a espuma foi claramente prejudicada.
Revisitando mentalmente todo o caminho até chegar naquele ponto, consegui isolar as mais prováveis causas do problema:
1 – novo fermentador – essa foi a minha primeira leva utilizando um novo fermentador, isso significa que o fermentador poderia estar contaminado ou que eu posso ter falhado em sua sanitização.
2 – adaptação ao novo equipamento –  me recordo que por algum motivo eu tive que movimentar o fermentador durante o inicio da fermentação e quando fiz isso, o blow off tube ( a mangueirinha ligada a um recipiente com água, responsável por permitir que o CO2 gerado pela fermentação saia do fermentador e que o ar no ambiente não entre no mesmo ) acabou sugando parte da água que estava no recipiente, eu não havia tomado nenhum cuidado nem com a água nem com o recipiente.
3 – erro durante a elaboração da receita – minha primeira experiência de usar um ingrediente tailandês (folha de limão kaffir) numa receita de cerveja de trigo belga pode ter sido a fonte do problema, uma vez que essa era a única alteração numa receita produzida diversas vezes sempre com sucesso. Porém, me recordo que venho utilizando folhas de limão kaffir para preparar pratos tailandeses sem nenhum problema, por isso considero muito pequena a probabilidade desse ter sido essa a fonte da contaminação.

cerveja artesanal contaminada.
cerveja artesanal que não deu certo.

Pensando sobre o que aconteceu, eu apostaria minhas fichas que o ponto de contaminação é o item numero 2, em especial por não ter feito uma mudança drástica no processo de sanitização do fermentador e ter obtido ótimas cervejas com ele após esse episódio (isso reduz a probabilidade do item 1). Além disso, acho pouco provável as folhas de limão kaffir adicionadas na fervura (quase 100C) poderem ter contaminado a leva (o que reduz a probabilidade do item 3). É claro que além das probabilidades que listei podem existir muitas outras, mas tendo a crer que dentre todas as possibilidades, essas são as de maior peso.

Bom, o que exatamente aconteceu eu nunca vou saber, o fato é que com a exceção de alguns copos servidos como teste e outros para uma amigo “realmente inclinado a descobrir o que aconteceu”, o barril de cerveja foi praticamente inteiro para ralo, e acreditem, isso “dói”.

Mas nem tudo é noticia ruim, mesmo com a leva perdida consegui coletar alguns insights valiosos em relação ao meu experimento “belgo-tailandês”. O principal é que a quantidade de folhas de limão Kaffir que utilizei foi insana, enquanto provava a cerveja contaminada, além de aguada ela me lembrava um chá muito forte de qualquer coisa (eu nunca tomei chá da folha do limão kaffir) isso sem mencionar a cor, que estava distante do padrão Wit da Cerveja Monstro. Resumindo, é preciso reduzir drasticamente a quantidade das folhas de limão kaffir na receita, do contrário o resultado será um chá alcoólico, gaseificado, calórico e ultra forte.

Bom, é isso! as coisas podem dar errado mas a vida segue, mesmo porquê existem inúmeras deliciosas cervejas que ainda não produzi e isso é o mais importante, então “rumbora” corrigir os erros e seguir em busca da cerveja perfeita!

um abraço,
Cerveja Monstro.

Degustando a Witbier

 

Cerveja artesanal Witbier - cerveja de trigo não maltado com especiarias
Cerveja artesanal Witbier – cerveja de trigo não maltado com especiarias

Essa é a nossa cerveja artesanal do estilo belga Witbier, uma cerveja feita com trigo não maltado, cevada maltada, lúpulo, raspas de laranja e sementes de coentro. Ela foi feita no final de Novembro e engarrafa nos últimos dias de Dezembro, após a carbonatação atingir seu ponto ideal as garrafas misteriosamente desapareceram, acho que os dias quentes contribuíram, restaram pouquíssimas sobreviventes, felizmente deu tempo de degustar com calma e colocar minhas impressões por aqui.

Com aproximadamente 19 IBU’s e teor alcoólico de 4,3% essa cerveja está exatamente como o esperado, leve, refrescante e carrega consigo um leve aroma cítrico de laranja e um suave perfume de coentro. No primeiro contato nota-se uma leve acidez, depois algo doce, enquanto o final é ligeiramente seco, o colarinho é branco e cremoso porém não persiste por muito tempo, enquanto o corpo é dourado e turvo como se espera de uma “white beer”.

Gostei muito do resultado, existem apenas dois aspectos que eu gostaria de melhorar, um deles eu atribuo a baixa eficiência no dia da brassagem, a gravidade inicial esperada era de 1.049SG e obtive apenas 1.045SG e por isso a cerveja tem apenas 4,3% de álcool enquanto o limite inferior desse atributo para o estilo é 4,5%. O outro ponto é algo que vem acontecendo em algumas outras criações também, a retenção de espuma tem ficado um pouco aquém do esperado, preciso revisar meus processos e descobrir a causa disso, quero uma cerveja ainda melhor.

Um abraço,
Cerveja Monstro.

Witbier – Cerveja de trigo belga

A Cerveja Monstro produziu duas levas do elegante estilo belga Witbier e um dos pontos que mais me chamou atenção nessas experiências é o quão bem essa cerveja artesanal é recebida pelo público feminino, mesmo entre pessoas que alegavam não gostar de cerveja ou afirmavam tomar apenas “malzibier”, no geral a resposta tem sido uma expressão de surpresa seguida de alguma variação de “nossa, gostei!”. Tradicionalmente feita com malte de cevada, trigo não maltado e algumas especiarias essa cerveja é leve, refrescante, possui agradável aroma frutado cítrico, perfume de coentro, sabor ligeiramente doce com uma sútil acidez e colarinho denso e cremoso. A Witbier é uma cerveja de alta fermentação e também é conhecida como “white beer” e “bière blanche” pela sua turbidez e aparência branca, essas características tem origem na suspensão de levedura e nas proteínas do trigo contidos na cerveja e podem ser facilmente notados ao olhar para o copo.

Esse estilo tem mais de de 400 anos, provavelmente derivado da tradição dos monastérios belgas,  tornou-se bastante popular nos séculos XVIII e XIX nas cidades a leste de Bruxelas, em especial nas cidades de Louvain e Hoegaarden onde eram produzidos os exemplares mais conhecidos. Com a popularização das cervejas Lagers a Witbier perdeu espaço e no ano de 1957 literalmente desapareceu depois que a última cervejaria belga faliu. Dez anos depois um grande homem chamado Pierre Celis levantou dinheiro com os familiares para abrir uma cervejaria a fabricar a tradicional Witbier, ele a batizou com o nome Hoegaarden e anos depois a cerveja tornou-se mundialmente conhecida.

Grãos de trigo não maltado utilizados na receita da cerveja de trigo belga Witbier
Grãos de trigo não maltado utilizados na receita da cerveja de trigo belga Witbier

A “Witbier Monstro” mantém a mesma base desde que nasceu, a única diferença é que a segunda versão foi aprimorada com uma quantidade maior das especiarias (coentro e raspas de laranja) e o resultado foi ótimo, em especial no aroma, por isso as alterações foram mantidas na receita da terceira leva de cerveja artesanal que está maturando agora.

Receita para uma Witbier Monstro (20 litros)

2,5kg Malte Pilsner
2,5kg Trigo não maltado
0,2kg Aveia em flocos
7g de lúpulo Halllertau Herkules (first wort)
7g de lúpulo Perle (20 mins)
25g de sementes de coentro moídas
35g de raspas de laranja
Levedura Fermentis Safbrew T58

As rampas de mosturação foram:
30 mins a 50C
50 mins a 63C
10 mins a 76C

A primeira adição de lúpulo foi feita logo após a primeira etapa da filtragem, e as especiarias foram adicionadas durante os 5 minutos finais de fervura utilizando uma hopbag (algo bem parecido com aqueles saquinhos de chá) A OG estimada é de 1049 e a temperatura de fermentação 19C. Notaram que há pouco lúpulo nessa receita? o lúpulo é discreto nesse estilo, tanto no aroma quanto no amargor, o destaque fica por conta das especiarias e talvez esse seja um dos motivos dessa cerveja ser tão bem recebida pelas mulheres.

Que fique claro que em hipótese alguma a Cerveja Monstro considera que Witbier é “cerveja de mulher”, pelo contrário, diversos amigos provaram e adoraram, esse recorte foi dado apenas porque tradicionalmente em nosso país (tão maltratado pelas grandes industrias cervejeiras) a maior parte do mercado de cerveja é composta por homens e é bem legal ver que isso está mudando, um bom exemplo disso é a mãe desse que vos escreve, ela que “nunca bebeu cerveja apenas Malzibier” hoje não hesita em dizer que a witbier é uma de suas prediletas. Alguém ai quer provar?

Um abraço,
Cerveja Monstro.