Agora na virada do ano, enquanto recordava a indescritível sensação de degustar minha primeira cerveja, decidi olhar as anotações que sempre faço antes e durante a produção e me dei conta de que as cervejas inglesas estiveram mais presentes por aqui do que eu imaginava. Dentre todas as cervejas que nasceram aqui na Monstro, 39% foram cervejas inglesas, quatro IPA’s (talvez o meu estilo favorito!), uma Brown Ale, uma Brown Porter, uma Ordinary Bitter, uma Best Bitter e uma English Pale Ale, se eu incluísse as cervejas Irlandesas (ali pertinho) essa soma ultrapassaria os 50% enquanto as escolas alemã, americana, checa e belga dividiriam os 48% restantes. Enquanto aprendia, testava e degustava as cervejas que ia produzindo, não me preocupei em diversificar os estilos ou atender pedidos, talvez o critério mais importante na decisão de qual cerveja produzir foi o meu gosto e exatamente por isso a escola inglesa de cerveja abriu uma boa vantagem sobre as demais.
Essa tendência inglesa tem uma explicação simples: entre 2007 e 2008 estudei em Londres e isso fez com que eu descobrisse os pubs e consequentemente mais sobre a escola inglesa de cerveja. Acho improvável alguém se interessar por cervejas especiais (ou artesanais ou boa cerveja, como quiserem) se não beber e provar novas e boas cervejas, expandir o paladar é fundamental e nesse sentido a Inglaterra teve um papel muito importante em minha “formação cervejeira” (que ainda está começando) e tem a minha preferência, até de forma injusta, já que não conheço o suficiente das outras escolas para fazer uma comparação no mesmo patamar.
Os pubs tiveram grande importância para a cultura britânica porque eram o ponto de encontro da comunidade de muitos lugares, em especial nos vilarejos. O termo pub é a forma informal de “public house“, local público, que é uma oposição a “private house“, local privado. Em minha breve passagem pela terra da rainha notei que os pubs ingleses são frequentados por todo o tipo de gente que além de beber e fazer refeições como almoço, chá da tarde e jantar, também vão aos pubs para encontrar amigos, conversar sobre política ou esportes e em alguns casos até realizar eventos comunitários. Certa vez eu e alguns amigos havíamos deixado um pub e ao nos dirigirmos para nosso destino encontramos um outro pub pelo caminho onde estava rolando um show cover do Elvis para uma galera da melhor idade, aquilo foi sensacional, juro que tentei dançar com algumas senhoras assim como algumas de minhas amigas dançavam com os senhores presentes, foi uma experiência bem legal. De forma geral, qualquer outro programa como cinema, teatro, estádios de futebol ou tardes nos parques acabavam num pub, seja para fish & chips, burgers ou para uma das deliciosas ales espalhadas por lá.
A Inglaterra tem grande importância para a história da cerveja porque foi lá que vários estilos de cerveja surgiram como as Bitter, English Pale Ale, Porter, Stout, Indian Pale Ale, Brown Ale e Mild e isso faz parte do orgulho que os ingleses tem de sua tradição cervejeira. Com a invasão das grandes multinacionais da cerveja os britânicos de forma geral assistiram o interesse pelos estilos tradicionais de cerveja cair ao longo das últimas décadas, o que significou a perda de mais da metade do mercado para as cervejas do tipo Pilsner. Felizmente nos últimos anos o interesse do público jovem pelas ales tem aumentado e está impulsionando as microcervejarias, pequenos produtores locais e brewpubs a seguirem produzindo ótimas cervejas e mantendo viva a tradição das verdadeiras cervejas inglesas.
Nesse exato momento tem uma IPA fermentando e uma ótima English Pale Ale embarrilhada. Em breve falarei mais sobre elas e de outras cervejas inglesas que apareceram e continuarão a aparecer por aqui.
“God save the beer”
Cheers!
Cerveja Monstro