American Wheat Pé Grande

Uma das primeiras coisas que li enquanto coletava informações sobre como fazer cerveja artesanal foi que as cervejas de trigo demandavam um pouco mais de cuidado para serem feitas. Diferente da cevada o trigo utilizado nas receitas não possui casca, que é importante pois atua como uma espécie de elemento filtrante ajudando a clarear o mosto que ao término de todo o processo se tornará cerveja. Em Junho do ano passado após ter conseguido fazer minha primeira cerveja de trigo (uma Weiss) sem maiores problemas, apenas um pouco mais de trabalho para filtrar, decidi produzir uma American Wheat, o processo de produção ocorreu novamente sem  grandes problemas, e o mais importante, fiquei satisfeito com o o resultado quando degustei essa cerveja de trigo.

Existem algumas características que diferenciam os refrescantes estilos de cerveja American Wheat e Weiss, uma delas é que a versão americana tem maior presença do lúpulo, uma outra é o aroma/sabor de cravo e banana tradicionais nas cervejas de trigo do sul da Alemanha estão ausentes na versão Americana. Motivado por dias quentes de verão e pela curiosidade em relação a como ficaria minha American Wheat com um carga maior de lúpulo, decidi fazer uma nova versão de minha receita, mudando exatamente a quantidade e o tempo em que o lúpulo ficará em contato com a cerveja.

Já disse a vocês que adoro lúpulo? esse foi um motivos para eu ter aumentado a quantidade de lúpulo da receita original e ter subido o nível de amargor de 20 para 27 IBU’s em um máximo permitido para esse estilo de 30 IBU’s (International Bitterness Units é a escala que mede o amargor na cerveja). Pensando nessa força maior do lúpulo e em algo tipicamente americano, decidi nomear essa American Wheat de Pé Grande, monstro que esteve presente na minha infância através dos desenhos animados americanos exibidos pela nossa tv.

A American Wheat Pé Grande foi feita com a seguinte receita para 20 litros:

2,5kg de malte Pilsner
2,5kg de malte de trigo
10g de lúpulo Halllertau Herkules (60 mins)
20g de lúpulo Saphir (20 mins)
1 tablete de whirlfloc (15 mins)
10g de lúpulo Saphir (1 min)
Levedura Safale American (US-05)

As rampas de mosturação foram:
30 mins a 50C
50 mins a 64C
10 mins a 76C

Os lúpulos e o Whirlfloc foram adicionados a receita respeitando seus respectivos tempos de fervura. A OG estimada é de 1,047 e a temperatura de fermentação foi de 19C.

Em breve saberemos qual é o resultado dessa nova versão da American Wheat, quero aproveitar que tenho a Monstro do lago Weiss embarrilada e fazer uma comparação direta entre as duas, vai ser interessante.

Um abraço,
Cerveja Monstro

Pumpkin Ale Pesadelo

Pumpkin Ale Pesadelo - Cerveja Monstro
Pumpkin Ale Pesadelo – Monstro Cerveja Artesanal

É curioso ver a reação das pessoas ao ouvirem que você fez uma cerveja com abóbora, no geral demonstram certo ceticismo mas sempre se interessam em provar. Obviamente as reações se dividem entre os que torcem ou não o nariz e isso me parece estar diretamente ligado ao fato de gostar ou não de abóbora.
Depois das primeiras reações relacionadas a equação: “cerveja + abóbora = (?)”, notei que é ainda pior quando menciono os outros ingredientes especiais adicionados a receita (canela, noz moscada e pimenta da Jamaica), a partir desse momento quase ninguém deixa de fazer cara de interrogação “oi? pimenta da Jamaica?”

Essa história de misturar cerveja e abóbora não é invenção minha, alguns cervejeiros aqui do Brasil já fazem esse tipo de cerveja, mas minha inspiração veio dos Estados Unidos, país em que a cultura homebrewer é mais difundida e que a meu ver tem uma ligação com abóbora maior que a nossa, o Halloween é um bom exemplo disso.

Pumpkin Ale é uma cerveja sazonal, tipicamente feita com ingredientes que visam atribuir um sabor semelhante ao de torta de abóbora (sobremesa típica dos EUA), por isso pouco lúpulo é utilizado em sua receita, tanto para amargor quanto para aroma, já que o ideal é que a abóbora e as especiarias utilizadas se destaquem.
Boa parte do que pesquisei para criar minha versão foi em blogs e fóruns gringos, mas também recebi alguma ajuda de cervejeiros daqui. Como não existe unanimidade em processos e até mesmo nos ingredientes utilizados, desencanei e decidi tentar fazer e ver no que ia dar.
Lá fora alguns usam abóbora in natura enquanto outros usam o purê de abóbora enlatado, como não me recordo de alguma vez ter visto essas latas em gôndolas por aqui, não me restou outra opção, usei abóbora fresca. Precisei pedir ajuda para minha mãe, eu nunca comprei uma abóbora, poucos dias depois de conversarmos ela apareceu com uma pesando pouco mais de 4kg, exatamente o que precisava.

Uma das poucas informações que convergiam a respeito da brassagem dessa receita eram os problemas relacionados a filtragem, alguns cervejeiros tiveram seus sistemas de filtragem completamente entupidos e por isso recomendavam fortemente a utilização de palha de arroz para agir como elemento filtrante ou até mesmo adicionar a abóbora somente na fervura. Mesmo ciente disso decidi encarar sem palha de arroz, já que também tinha lido muitos relatos sobre as dificuldades de se produzir cervejas de trigo e não tive grandes problemas quando as fiz.
O primeiro passo foi colocar a abóbora para assar, a cortei em 8 pedaços e deixei em fogo médio/baixo por cerca de duas horas, até que a poupa estivesse macia o bastante para se soltar da casca (com a ajuda de uma colher) e formar um purê, enquanto isso fui buscar canela, noz moscada e pimenta da jamaica na feira-livre e fiz a moagem dos grãos.
A mosturação ocorreu conforme planejado, e com um delicioso cheiro de doce de abóbora, em seguida comecei a filtragem, e foi aqui que começaram os meus problemas. Quando comecei a recircular o mosto notei que a vazão começou a diminuir, então decidi passar mais rápido por essa etapa, não rolou! demorei muito tempo para conseguir tirar o mosto da panela, cerca de duas vezes o tempo normal de toda a filtragem e ainda faltava a lavagem dos grãos que, para o meu desalento, literalmente se tornou caótica, o purê de abóbora ao se misturar com o mosto formou uma gosma algo viscoso que entupiu completamente o fundo falso, travando a filtragem.
A solução foi mexer vigorosamente os grãos junto de toda a água da lavagem, esquecer a recirculação, usar um peneira de inox (dessas de cozinha) para evitar que alguma partícula maior fosse levada para a fervura e torcer para que eu tivesse conseguido extrair açucares o bastante para que pudesse obter cerveja no final de todo o processo.

Depois de ter assimilado a ideia de que a filtragem praticamente não existiu e uma das consequências disso seria uma cerveja completamente turva, iniciei a fervura normalmente, adicionei os lupúlos, whirlfloc e especiarias conforme o programado e mais uma vez fui surpreendido por um aroma delicioso, que mal pude aproveitar porque estava completamente esgotado, nenhuma outra cerveja tinha demandado tanto trabalho.

Quando pensei essa receita decidi incluir aveia para atribuir certa cremosidade além de fazer a sacarificação em temperatura alta para que a cerveja fosse bem encorpada. Minha OG estimada era de 1,053 e pós fervura obtive 1,046, sinceramente esperava algo pior, e após 3 semanas de fermentação / maturação a engarrafei utilizando açúcar mascavo.
Depois de todo o trabalho e a ligação de abóbora com o Halloween, decidi que Pesadelo seria um ótimo nome para essa cerveja.

Pumpkin Ale Pesadelo (receita para 20 litros)

4kg de malte Pilsner
0,5Kg de aveia em flocos
0,35Kg de malte Vienna
4Kg de abóbora
15g Hallertau Herkules (60 mins)
10g Saphir (20 mins)
1 whirlfloc (15 mins)
15g Canela em pó (1 min)
10g Noz moscada moída (1 min)
10 pimenta da jamaica moída (1 min)
Levedura Lallemand Nottingham Yeast

As rampas foram:
30min a 50C
45min a 67C
10min a 76C

Os lúpulos, whirlfloc e as especiarias foram adicionados durante a fervura, respeitando seus respectivos tempos, sendo que as especiarias foram adicionadas ao mosto utilizando uma “hop bag”. A temperatura de fermentação foi de 19C.

As festas de final de ano já estão chegando e acho que esse é um bom momento para degustar a Pesadelo.

Um abraço,
Cerveja Monstro

Monstro do lago Weiss – Cerveja de trigo alemã

Monstro do lago Weiss - Monstro Cerveja Artesanal
Monstro do lago Weiss – Monstro Cerveja Artesanal

Há muitos anos atrás, quando pela primeira vez provei uma cerveja de trigo, eu a conheci como “Weiss”, e apesar de usarem outros termos como Weissbier e Weizen, tenho a impressão de que Weiss é a forma como a maioria das pessoas se referem a esse tipo de cerveja por aqui. Weissbier é a palavra alemã para “cerveja branca” e Weizen é a palavra para “trigo”, esse é um estilo de cerveja da Baviera, sul da Alemanha, e que segundo as leis alemãs deve ser produzido com pelo menos 50% de malte de trigo, o restante é malte de cevada, do contrário ela não pode ser caracterizada como uma cerveja desse estilo.
Essa cerveja tem corpo leve, cor que varia entre o amarelo palha e o dourado, espuma branca e cremosa, é refrescante e comumente consumida no verão. O aroma e sabor geralmente remetem a cravo e banana, por vezes ligeiramente cítrica e com notas de tuti-fruti. Dada essa complexidade o lúpulo é utilizado de forma moderada, seu sabor é muito leve, por vezes ausente. Os exemplos comerciais mais fáceis de encontrar são: Erdinger Weissbier, Paulaner Hefe-Weizen, Colorado Appia, Bohemia Weiss e Eisenbahn Weizenbier.

Nesse exato instante as leveduras estão trabalhando na cerveja que fiz no ultimo dia 07, uma cerveja de trigo do tipo Weissbier ou Weizen. Esse estilo de cerveja demanda pouco tempo de maturação, quanto mais jovem melhor, portanto espero estar degustando essa cerveja em breve.
Essa é a terceira vez que faço uma cerveja desse estilo, as primeiras versões foram produzidas em Maio e Julho desse ano e estavam boas, mas como de lá pra cá aprimorei alguns processos e aprendi um pouquinho mais sobre como fazer cerveja, acho que essa versão ficará ainda melhor.
A receita é exatamente a mesma, as mudanças estão no processo e no melhor controle da temperatura de fermentação, essa leva foi nomeada “Monstro do lago Weiss”.

Esta é a receita que utilizei: (OG estimada 1050 SG)
50,5% de malte de trigo
46,6% de malte Pale Ale
2,9% de malte Munique II
Lúpulo Hallertauer Hersbrucker (12,2 IBUs)
Levedura Safbrew Wheat (WB 06)

As rampas foram:
15 min a 40C
15 min a 45C
15 min a 50C
45 min a 67C
10 min a 76C
A adição de lúpulo foi feita a 60min do final da fervura e a temperatura de fermentação é de 19C.

Assim que provar atualizo esse post.

(atualizado com foto da Monstro do lago Weiss).

Um abraço,
Cerveja Monstro