Cerveja artesanal de trigo com maracujá – Fruit beer

Maracujá adicionado a cerveja artesanal de trigo
Maracujá adicionado a cerveja artesanal de trigo

Finalmente decidimos misturar frutas e cerveja! Fizemos uma cerveja artesanal de trigo e adicionamos maracujá durante a maturação. Como foi nossa primeira vez batemos cabeça durante o processo, mas apesar dos tropeços a cerveja parece estar caminhando bem.

Foi preciso ler um pouco a respeito para entender melhor esse tipo de cerveja, definir a fruta e escolher os processos que mais se adequavam as nossas expectativas. Encontramos muita informação na internet, algumas boas fontes em inglês estão aqui e aqui e em português aqui. Nossa vontade sempre foi usar cambuci, mas infelizmente estamos fora da estação e é impossível encontrar essa fruta fresca por ai nessa época do ano, portanto optamos por outra fruta cítrica com um aroma bem legal, o maracujá.

Adicionamos a polpa da fruta previamente congelada a cerveja após a levedura ter terminado a fermentação, mantivemos a temperatura de fermentação e aguardamos 10 dias  para que a levedura consumisse todo o açúcar fermentável do maracujá.

Levedura e polpa de maracujá decantada no fundo do fermentador
Levedura e polpa de maracujá decantada no fundo do fermentador

Exatamente aqui começa a bagunça, não pasteurizamos ou batemos a polpa no liquidificador, portanto as sementes também foram para o fermentador inteiras, o problema é que acreditávamos que todas as partículas sólidas da fruta iriam decantar e se juntar ao trub frio no fundo do fermentador, o que não aconteceu. Mesmo após reduzirmos a temperatura para ajudar no processo de decantação a situação não melhorou e após atingirmos 0C ainda era possível ver sementes e outras partes do maracujá na superfície da cerveja.

Menosprezamos a questão e usamos o auto sifão para transferir a cerveja para o postmix acreditando que esse procedimento deixaria todos os sólidos para trás. E é claro que falhamos! Diversas partículas sólidas foram transferidas para dentro do postmix o que é um baita problema já que essas partículas podem causar problemas ao funcionamento do barril.

Improviso para retirar resíduos sólidos da polpa do maracujá de dentro do postmix.
Improviso para retirar resíduos sólidos da polpa do maracujá de dentro do postmix.

Como ficar transferindo a cerveja de um recipiente para outro não é legal, já que isso aumenta os riscos de contaminação e oxidação, “resolvemos” o problema na gambiarra no improviso, criamos uma espécie de versão reduzida da “rede para caçar borboletas” (daquelas que sempre aparecem em desenho animado). Utilizamos arame e um filtro de bomba de chimarrão para criar a nossa ferramenta usada pescar partículas que boiavam dentro do barril de cerveja. Após “limparmos” a superfície,  fechamos o postmix e iniciamos a carbonatação. O mais incrível aqui é que todo esse trabalho teria sido evitado se tivéssemos utilizado um hop bag para a polpa do maracujá, lembrem-se disso!

Bom, enquanto o carbonatação não termina vamos falar sobre a receita. Além dos maltes de trigo e de cevada utilizamos um pouco de açúcar para aumentar a graduação alcoólica da cerveja sem aumentar o corpo e deixa-la mais seca. Gostaríamos que o lúpulo tivesse um papel bem discreto, por isso focamos em 13 IBU’s e uma única adição no início da fervura, apenas para amargor. Por último, decidimos por utilizar fermento belga pelas suas características frutadas e condimentadas que poderiam combinar com o maracujá.
A receita para 20 litros da nossa cerveja de trigo com maracujá ficou assim:
1,9Kg de malte de trigo
1,9Kg de malte Pilsner
0,27kg de açúcar (5 mins)
14g de lúpulo Perle (60 mins)
1/2 tablete de whirlfloc
Levedura White Labs – WLP570 (fermentação a 20C)

A OG estimada é de 1.047SG e a FG é 1.009SG.

A mosturação foi feita com 11 litros de água, em uma única rampa de sacarificação a 65C por 60 minutos e depois a inativação das enzimas a 76C por 10 minutos. Na lavagem dos grãos usamos mais 19 litros de água.

Utilizamos 500g de polpa de maracujá fresco, a congelamos e logo depois adicionamos à cerveja após o termino da fermentação. Mantivemos a temperatura de fermentação por 10 dias antes de baixarmos para 0C para iniciar a etapa de clarificação.

Agora é aguardar a carbonatação terminar para finalmente provar a nossa primeira cerveja caseira com fruta.

Em breve postamos o resultado. [update: veja como ficou aqui]

Um abraço,
Cerveja Monstro

Cerveja artesanal Esqueleto Bock – vídeo

Para os que desejavam ver a nossa primeira cerveja artesanal bock em ação, está ai o resultado ( :
A receita completa está aqui .

O que acharam? Deixe suas opiniões e sugestões no comentários abaixo.

Um abraço,
Cerveja Monstro.

Cerveja artesanal Bock Esqueleto – receita

Cerveja artesanal bock - Esqueleto
Cerveja artesanal Esqueleto – bock

Sim, voltamos a fazer uma lager! E dessa vez preparamos nossa primeira cerveja artesanal do estilo Bock, um dos estilos clássicos da escola alemã de cerveja. Essa é uma lager forte, fácil de beber, escura e com destaque para o malte. Sua graduação alcoólica é de no mínimo 6,3% e em nossas mentes ela está de alguma forma conectada aos dias frios. Alguém ai se lembra do baixinho e da Kaiser Bock?

Originada no inicio do século XIV na cidade de Einbeck, no norte da Alemanha, a cerveja Bock quase desapareceu no começo do século XVI devido aos tempos difíceis em sua cidade de origem ( dois grandes incêndios e a guerra dos 30 anos).  Ainda no século XVI, a cidade de Munique passou a tentar produzir as mesmas grandes cervejas da cidade de Einbeck, que no dialeto local era conhecida por “Ainpoeckish Pier”, que depois de algum tempo foi reduzido para “Poeck” e por fim “Bock”, que também significa bode em alemão.
Existe uma outra versão, mais interessante, da origem do nome dessa cerveja. Acredita-se que buscando proteção dos deuses, alguns povos faziam essa cerveja apenas durante o período do ano correspondente ao signo de Capricórnio, que em alemão se chama “Bock”, dai surgiria o nome.

Começamos a pensar em nossa receita de olho nas referências do estilo, “lager forte, escura e com destaque para o malte”. Para chegarmos em uma graduação alcoólica superior ao que estamos acostumados, usamos mais malte de cevada, a base é de malte Pilsner. Adicionamos o malte Caramel / Crystal para melhorar a retenção de espuma e o aspecto caramelado da cerveja, além disso, incluímos também um pouquinho do malte Carafa III para ajustar a cor.
O foco do lúpulo está no amargor, já que a característica predominante no sabor e aroma deve ser a do malte, portanto utilizamos apenas lúpulo para amargor, nossa meta era atingirmos cerca de 23 IBUs.
Para realçar a característica do malte na cerveja decidimos fazer uma decocção simples, que é basicamente retirar parte do mosto durante a mosturação e levar a fervura por algum tempo, antes de devolve-lo ao restante do mosto fazendo com que a temperatura de tudo se eleve e atinja a temperatura da próxima rampa de mosturação.
Utilizamos a levedura Saflager S-23 por ser a levedura lager que tínhamos por aqui.  Nossa receita para uma cerveja bock artesanal (40 litros) ficou assim:

10kg de malte Pilsner
2kg de malte Caramel / Crystal – 80L
0,2kg de malte Carafa III
50g de lúpulo Northern Brewer (23,1 IBUs) – (60mins)
1 tablete de whirlfloc (15mins)
Levedura SafLager West European Lager (S-23)

Fizemos a mosturação com uma parada protéica a 50C e a sacarificação a 67C, a decoção foi feita durante a sacarificação, retiramos um terço do mosto ( a parte mais “grossa”, com os grãos) e levamos a fervura por 15mins, com uma pausa de cerca de 15 mins a 67C para sacarificação antes do mosto começar a ferver.

O lúpulo e o whirlfloc foram adicionados ao mosto a 60 mins e 15 mins do final da fervura, respectivamente. Fermentamos a 11C por 12 dias e depois fizemos o descanso para a redução diacetil (é só elevar em 4 graus a temperatura por dois ou três dias), em seguida baixamos gradativamente a temperatura até atingir 0C e seguimos com a maturação até atingirmos o nível que gostaríamos.

Nossa bock foi batizada de Esqueleto, na verdade pensamos em um monstro esqueleto, uma espécie de golem caveira com uns chifres como uma referencia ao “bode alemão”. Logo voltamos pra falar dos resultados e mostrar a cara da nossa Bock Esqueleto.

Um abraço,
Cerveja Monstro.

Halloween, abóbora, cerveja artesanal e Pesadelo

Abóboras utilizadas na receita da cerveja artesanal Pesadelo
Abóboras utilizadas na receita da cerveja artesanal Pesadelo

Para alguns hoje é dia de celebrar o Halloween, para outros dia 31 de Outubro é dia do Saci, mas se você, assim como nós, não está muito preocupado com o motivo apenas com a celebração em si, que tal aproveitar o que parece ser “o dia mundial da abóbora” para comemorar com uma Pumpkin Ale? Por aqui vamos celebrar com a Pesadelo, nossa cerveja artesanal feita com abóbora, pimenta da jamaica, noz-moscada e canela.

Nossa última brassagem foi absolutamente mais tranquila que a primeira, repetimos a receita com uma pequena alteração, dessa vez colocamos a abóbora dentro de um grain bag antes de adiciona-la a panela cheia de malte de cevada. Além disso, entre a primeira brassagem e essa alteramos algumas partes do nosso equipamento, dentre elas o filtro, grande responsável por toda a dor de cabeça na primeira ocasião, o novo filtro se comporta muito melhor que o seu antecessor o que facilita bastante as coisas.

Engarrafamos a cerveja direto do postmix ontem, por isso hoje as garrafas já podem participar da festa. A Pesadelo foi uma das cervejas feitas nas panelas da Cerveja Monstro que mais recebeu elogios, por isso nada mais justo que ser uma das primeiras a ganhar uma cara (rótulo).

Pesadelo Pumpkin Ale, cerveja artesanal de abóbora.
Pesadelo Pumpkin Ale, cerveja artesanal de abóbora.

A pedida de hoje é cerveja artesanal de abóbora! Tente encontrar a sua, tem diversos exemplos espalhados pelo Brasil, nacionais e importadas. E se você não conseguir encontrar sua garrafa, está na hora de considerar a hipótese de fazer a sua própria cerveja!

Ah! e ai? o que acharam do rótulo?

Um abraço,
Cerveja Monstro.

Provando a English Pale Ale (ESB)

English Pale Ale (ESB)
English Pale Ale (ESB)

Esse é o resultado da nossa segunda cerveja artesanal do estilo English Pale Ale (ESB), a única diferença em relação a receita publicada anteriormente é que essa leva foi carbonatada com refermentação na garrafa enquanto a primeira foi embarrilada em postmix. Mesmo utilizando apenas 6g de açúcar por litro de cerveja para a priming achei que a cerveja ficou ligeiramente mais carbonatada que as pale ales inglesas, nada que comprometa a experiência, mas fiquei com a sensação de que na terra da rainha essa cerveja teria um pouco menos de gás.

Os lúpulos fizeram a sua parte e a cerveja tem aproximadamente 43 IBUs, o amargor é agradável e o discreto aroma de lúpulo poderia ser melhor se fosse menos tímido, talvez seja o caso de aumentar a quantidade de lúpulo no final da fervura ou considerar a hipótese de uma nova adição durante a maturação da cerveja para preservar seu aroma.

A fermentação começou com uma densidade inicial de 1.052SG e terminou em 1.019SG (o esperado era 1.014SG) o que resultou numa graduação alcoólica de 4,5% e uma cerveja bem encorpada. Novamente me deparo com uma atenuação aquém do esperado, acho que reduzir a temperatura de brassagem e melhor controla-la pode me ajudar a lidar com isso. A cerveja ficou ligeiramente mais escura (cobre) que a versão anterior, as características do malte estão presentes, discretas no aroma e mais perceptíveis no sabor, mas honestamente falando ainda não consegui atingir a característica maltosa que desejo.

Difícil saber se devo mudar a receita ou apenas a repetir e me certificar de que a cerveja atenue conforme o esperado antes de decidir se vale a pena ou não estudar modificações no processo. No geral essa é uma boa cerveja com alguns pontos a aprimorar e justamente por isso ela é uma forte candidata e voltar para a nossa lista, até lá decido se haverá alterações na receita.

Um abraço,
Cerveja Monstro.

Nem só de alegrias vive o cervejeiro caseiro – Witbier desandou

Cerveja artesanal que desandou.
Cerveja artesanal que desandou.

Sim, infelizmente é verdade, nem só de alegrias vive um cervejeiro caseiro. O grande barato de fazer cerveja em casa é poder experimentar coisas novas, fazer gambiarras improvisar equipamentos e processos, criar receitas ou usar ingredientes pouco usuais. Bom, tudo isso tem um risco e a menos que você seja algum tipo de suicida ou estagiário de terrorista da área bioquímica, esse risco se resume a possibilidade de sua preciosa cerveja artesanal dar errado, infelizmente isso aconteceu comigo.

Como dizem alguns: “cedo ou tarde você vai perder uma leva”,  vocês se recordam da minha experiência “belgo-tailandesa”? uma Witibier com folhas de limão kaffir ? Então, ela foi a minha primeira cerveja a desandar, provavelmente por contaminação durante o processo de produção. Agora o que me resta a fazer é olhar para o passado e rever todos os pontos na tentativa de identificar a origem do que deu errado e evitar que volte a acontecer no futuro.
Como eu sempre provo as amostras que retiro durante o processo eu já havia notado algo irregular ao término da fermentação e mesmo assim decidi levar tudo para o postmix (barril) e carbonatar a cerveja. Quando finalmente a provei, não tive dúvidas de que ela havia desandado, a cerveja estava aguada,  estranha, não tinha corpo de cerveja, a textura era bem diferente das cervejas de trigo que eu já havia produzido e a espuma foi claramente prejudicada.
Revisitando mentalmente todo o caminho até chegar naquele ponto, consegui isolar as mais prováveis causas do problema:
1 – novo fermentador – essa foi a minha primeira leva utilizando um novo fermentador, isso significa que o fermentador poderia estar contaminado ou que eu posso ter falhado em sua sanitização.
2 – adaptação ao novo equipamento –  me recordo que por algum motivo eu tive que movimentar o fermentador durante o inicio da fermentação e quando fiz isso, o blow off tube ( a mangueirinha ligada a um recipiente com água, responsável por permitir que o CO2 gerado pela fermentação saia do fermentador e que o ar no ambiente não entre no mesmo ) acabou sugando parte da água que estava no recipiente, eu não havia tomado nenhum cuidado nem com a água nem com o recipiente.
3 – erro durante a elaboração da receita – minha primeira experiência de usar um ingrediente tailandês (folha de limão kaffir) numa receita de cerveja de trigo belga pode ter sido a fonte do problema, uma vez que essa era a única alteração numa receita produzida diversas vezes sempre com sucesso. Porém, me recordo que venho utilizando folhas de limão kaffir para preparar pratos tailandeses sem nenhum problema, por isso considero muito pequena a probabilidade desse ter sido essa a fonte da contaminação.

cerveja artesanal contaminada.
cerveja artesanal que não deu certo.

Pensando sobre o que aconteceu, eu apostaria minhas fichas que o ponto de contaminação é o item numero 2, em especial por não ter feito uma mudança drástica no processo de sanitização do fermentador e ter obtido ótimas cervejas com ele após esse episódio (isso reduz a probabilidade do item 1). Além disso, acho pouco provável as folhas de limão kaffir adicionadas na fervura (quase 100C) poderem ter contaminado a leva (o que reduz a probabilidade do item 3). É claro que além das probabilidades que listei podem existir muitas outras, mas tendo a crer que dentre todas as possibilidades, essas são as de maior peso.

Bom, o que exatamente aconteceu eu nunca vou saber, o fato é que com a exceção de alguns copos servidos como teste e outros para uma amigo “realmente inclinado a descobrir o que aconteceu”, o barril de cerveja foi praticamente inteiro para ralo, e acreditem, isso “dói”.

Mas nem tudo é noticia ruim, mesmo com a leva perdida consegui coletar alguns insights valiosos em relação ao meu experimento “belgo-tailandês”. O principal é que a quantidade de folhas de limão Kaffir que utilizei foi insana, enquanto provava a cerveja contaminada, além de aguada ela me lembrava um chá muito forte de qualquer coisa (eu nunca tomei chá da folha do limão kaffir) isso sem mencionar a cor, que estava distante do padrão Wit da Cerveja Monstro. Resumindo, é preciso reduzir drasticamente a quantidade das folhas de limão kaffir na receita, do contrário o resultado será um chá alcoólico, gaseificado, calórico e ultra forte.

Bom, é isso! as coisas podem dar errado mas a vida segue, mesmo porquê existem inúmeras deliciosas cervejas que ainda não produzi e isso é o mais importante, então “rumbora” corrigir os erros e seguir em busca da cerveja perfeita!

um abraço,
Cerveja Monstro.

Dubbel arretada – receita de cerveja trapista com rapadura

Rapadura utilizada da receita da cerveja Dubbel
Rapadura utilizada na receita da cerveja Dubbel

Finalmente de volta! tem uma porção de coisas novas para contar, mas vou tentar fazer isso por partes, para começar quero falar das novas cervejas, nossa primeira Belgian Strong Ale, uma Dubbel com rapadura é uma delas e foi mais ou menos assim que ela nasceu: depois de algum tempo sendo completamente displicente com a escola belga de cerveja (só tinha feito witbier), decidi me redimir e tentar algo novo, “por quê não fazer uma Dubbel?” uma ale pouco amarga, encorpada, complexa e com cerca de 7% de álcool, gostei da ideia e lendo sobre o estilo descobri que as versões tradicionais dessa cerveja utilizam açúcar caramelizado e outros açucares não refinados na receita e foi nesse momento que pensei “pera, por quê não colocar rapadura nisso?”, então, aproveitei a viagem da minha avó para o nordeste e pouco tempo depois estava a rapadura em mãos, pronto para moer os grãos e ir para as panelas.

A Dubbel faz parte de um estilo de cerveja desenvolvido pelo monges trapistas na idade média e resgatado após a era napoleônica, em meados do século XIX. Além da Dubbel, Enkel e Tripel são os sub estilos do que conhecemos hoje por Ale forte Belga (Belgian Strong Ale). No final do século XX a popularidade das cervejas trapistas era grande e diversas cervejarias pelo mundo começaram a usar o termo “trapista” em seus produtos, o que culminou na formação da Associação Trapista Internacional pelas Abadias Trapistas com o objetivo de proibir o uso indiscriminado do termo “trapista” por cervejarias comerciais. Atualmente apenas oito monastérios tem o direito de usar o termo, sendo seis deles na Bélgica, um na Holanda e um na Áustria, esses monastérios devem produzir suas cervejas dentro de suas propriedades sob a supervisão dos monges cervejeiros e reverter os ganhos para caridade ao invés do lucro financeiro.

Impossível pensar na receita sem olhar para onde se quer chegar, por isso foi importante conhecer as características de uma Dubbel. É uma ale encorpada com colarinho persistente, possui graduação alcoólica entre 6,5 e 8%, sua cor varia do âmbar escuro ao cobre, é maltada, de baixo amargor e com esteres frutados. Na minha receita utilizei o malte pale ale como base e adicionei os maltes Aroma e Melanoidina para obter a característica maltada, o malte special B para contribuir com os esteres frutados. Também usei aveia para ajudar na formação e retenção de espuma e a rapadura, para mais esteres frutados e para elevar a quantidade de açúcar fermentável e consequentemente a graduação alcoólica.
O lúpulo deve ser discreto, por isso utilizei o Hallertauer Herkules para amargor e o Styrian Goldings no meio da fervura, a fermentação ficou a cargo da levedura WLP570 da White Labs, que lida muito bem com cervejas com alta graduação alcoólica além de contribuir para um perfil frutado.

Rapadura sendo derretida antes de ser adicionada a cerveja.
Rapadura sendo derretida antes de ser adicionada a cerveja.

Essa é a receita para a cerveja “Arretado!”, nossa Dubbel com rapadura:
60,1% malte Pale Ale
8,6% malte Aroma
8,6% malte Melanoidina
8,6% malte Special B
5,6% Aveia em flocos
8,6% rapadura
Hallertau Herkules (10,6 IBUs) – 60 mins
Styrian Goldings (6,4IBUs) – 30mins
1 tablet de whirlfloc – 15mins
levedura White Labs WLP570 Belgian Golden Ale

A sacarificação foi feita a 67C e a fervura feita por uma hora, os lúpulos e o whirlfoc foram adicionados em seus respectivos tempos. A gravidade inicial estimada é de 1.066SG e a final é 1.011SG (o que totalizaria 7,4% de álcool. A fermentação deve ser feita entre 20C e 24C para depois ser engarrafada para a carbonatação.

Estou ansioso para conhecer o resultado, alguns dias atrás fui checar como estava a fermentação e a gravidade estava em 1.020SG com um delicioso aroma saindo do fermentador, agora é aguardar o termino da fermentação, engarrafar e finalmente provar.

um abraço,
Cerveja Monstro.

Provando a Ordinary Bitter

Ordinary Bitter - Monstro Cerveja Artesanal
Ordinary Bitter – Monstro Cerveja Artesanal

Hora de provar e conhecer o resultado de mais uma cerveja artesanal inspirada na tradicional escola inglesa. A ideia de produzir uma Ordinary Bitter surgiu da vontade de descomplicar um pouco as coisas, o processo de produção segue trabalhoso mas elaborar a receita foi relativamente mais simples. Conforme comentei no post anterior, a Ordinary Bitter é conhecida por ser uma ale leve com um frutado suave, sua cor pode variar entre o amarelo claro e o cobre e seus melhores exemplos apresentam aroma de malte caramelado.

A fermentação começou com uma gravidade incial de OG 1.040 SG e terminou em 1.009 SG o que resultou no teor alcoólico de 4,1% (um pouco acima do limite do estilo que é 3,8%). A carbonatação foi feita adicionando açúcar fermentável a cerveja (priming) antes de engarrafa-la, utilizei cerca de 5,6g por litro.

Indiscutivelmente essa foi uma das minhas cervejas caseiras mais fáceis de beber, leve, ligeiramente frutada e amarga (aproximadamente 31 IBU’s) como se espera de uma bitter, há também a agradável presença do lúpulo no aroma. Gostei da cor que esta completamente dentro do esperado, gostei também da translucidez, não esta como uma lager que passa por um longo processo de clarificação, mas está bem honesta nesse sentido.

Curiosamente a minha ideia de manter a receita simples fez com que essa versão não apresentasse nenhuma nota de malte caramelado, o que era esperado já que não inclui nenhum malte especial com essa finalidade. Gosto de cervejas com essa característica e sem dúvida é algo que vou acrescentar na próxima versão.

Outra mudança para a próxima versão está relacionada ao nível de carbonatação, para uma bitter inglesa essa leva tinha muito gás (veja o tamanho do colarinho na imagem) bem diferente das irmãs britânicas que a inspiraram. Por isso, reduzirei o priming se carbonatar as próximas levas na garrafa ou injetarei pouco gás carbônico no postmix se decidir embarrilar, mas é certo que farei novas levas dessa Ordinary Bitter, ela prova que uma cerveja simples pode ser agradável e prazerosa.

Cheers!

Um abraço,
Cerveja Monstro.