Pumpkin Ale Pesadelo

Pumpkin Ale Pesadelo - Cerveja Monstro
Pumpkin Ale Pesadelo – Monstro Cerveja Artesanal

É curioso ver a reação das pessoas ao ouvirem que você fez uma cerveja com abóbora, no geral demonstram certo ceticismo mas sempre se interessam em provar. Obviamente as reações se dividem entre os que torcem ou não o nariz e isso me parece estar diretamente ligado ao fato de gostar ou não de abóbora.
Depois das primeiras reações relacionadas a equação: “cerveja + abóbora = (?)”, notei que é ainda pior quando menciono os outros ingredientes especiais adicionados a receita (canela, noz moscada e pimenta da Jamaica), a partir desse momento quase ninguém deixa de fazer cara de interrogação “oi? pimenta da Jamaica?”

Essa história de misturar cerveja e abóbora não é invenção minha, alguns cervejeiros aqui do Brasil já fazem esse tipo de cerveja, mas minha inspiração veio dos Estados Unidos, país em que a cultura homebrewer é mais difundida e que a meu ver tem uma ligação com abóbora maior que a nossa, o Halloween é um bom exemplo disso.

Pumpkin Ale é uma cerveja sazonal, tipicamente feita com ingredientes que visam atribuir um sabor semelhante ao de torta de abóbora (sobremesa típica dos EUA), por isso pouco lúpulo é utilizado em sua receita, tanto para amargor quanto para aroma, já que o ideal é que a abóbora e as especiarias utilizadas se destaquem.
Boa parte do que pesquisei para criar minha versão foi em blogs e fóruns gringos, mas também recebi alguma ajuda de cervejeiros daqui. Como não existe unanimidade em processos e até mesmo nos ingredientes utilizados, desencanei e decidi tentar fazer e ver no que ia dar.
Lá fora alguns usam abóbora in natura enquanto outros usam o purê de abóbora enlatado, como não me recordo de alguma vez ter visto essas latas em gôndolas por aqui, não me restou outra opção, usei abóbora fresca. Precisei pedir ajuda para minha mãe, eu nunca comprei uma abóbora, poucos dias depois de conversarmos ela apareceu com uma pesando pouco mais de 4kg, exatamente o que precisava.

Uma das poucas informações que convergiam a respeito da brassagem dessa receita eram os problemas relacionados a filtragem, alguns cervejeiros tiveram seus sistemas de filtragem completamente entupidos e por isso recomendavam fortemente a utilização de palha de arroz para agir como elemento filtrante ou até mesmo adicionar a abóbora somente na fervura. Mesmo ciente disso decidi encarar sem palha de arroz, já que também tinha lido muitos relatos sobre as dificuldades de se produzir cervejas de trigo e não tive grandes problemas quando as fiz.
O primeiro passo foi colocar a abóbora para assar, a cortei em 8 pedaços e deixei em fogo médio/baixo por cerca de duas horas, até que a poupa estivesse macia o bastante para se soltar da casca (com a ajuda de uma colher) e formar um purê, enquanto isso fui buscar canela, noz moscada e pimenta da jamaica na feira-livre e fiz a moagem dos grãos.
A mosturação ocorreu conforme planejado, e com um delicioso cheiro de doce de abóbora, em seguida comecei a filtragem, e foi aqui que começaram os meus problemas. Quando comecei a recircular o mosto notei que a vazão começou a diminuir, então decidi passar mais rápido por essa etapa, não rolou! demorei muito tempo para conseguir tirar o mosto da panela, cerca de duas vezes o tempo normal de toda a filtragem e ainda faltava a lavagem dos grãos que, para o meu desalento, literalmente se tornou caótica, o purê de abóbora ao se misturar com o mosto formou uma gosma algo viscoso que entupiu completamente o fundo falso, travando a filtragem.
A solução foi mexer vigorosamente os grãos junto de toda a água da lavagem, esquecer a recirculação, usar um peneira de inox (dessas de cozinha) para evitar que alguma partícula maior fosse levada para a fervura e torcer para que eu tivesse conseguido extrair açucares o bastante para que pudesse obter cerveja no final de todo o processo.

Depois de ter assimilado a ideia de que a filtragem praticamente não existiu e uma das consequências disso seria uma cerveja completamente turva, iniciei a fervura normalmente, adicionei os lupúlos, whirlfloc e especiarias conforme o programado e mais uma vez fui surpreendido por um aroma delicioso, que mal pude aproveitar porque estava completamente esgotado, nenhuma outra cerveja tinha demandado tanto trabalho.

Quando pensei essa receita decidi incluir aveia para atribuir certa cremosidade além de fazer a sacarificação em temperatura alta para que a cerveja fosse bem encorpada. Minha OG estimada era de 1,053 e pós fervura obtive 1,046, sinceramente esperava algo pior, e após 3 semanas de fermentação / maturação a engarrafei utilizando açúcar mascavo.
Depois de todo o trabalho e a ligação de abóbora com o Halloween, decidi que Pesadelo seria um ótimo nome para essa cerveja.

Pumpkin Ale Pesadelo (receita para 20 litros)

4kg de malte Pilsner
0,5Kg de aveia em flocos
0,35Kg de malte Vienna
4Kg de abóbora
15g Hallertau Herkules (60 mins)
10g Saphir (20 mins)
1 whirlfloc (15 mins)
15g Canela em pó (1 min)
10g Noz moscada moída (1 min)
10 pimenta da jamaica moída (1 min)
Levedura Lallemand Nottingham Yeast

As rampas foram:
30min a 50C
45min a 67C
10min a 76C

Os lúpulos, whirlfloc e as especiarias foram adicionados durante a fervura, respeitando seus respectivos tempos, sendo que as especiarias foram adicionadas ao mosto utilizando uma “hop bag”. A temperatura de fermentação foi de 19C.

As festas de final de ano já estão chegando e acho que esse é um bom momento para degustar a Pesadelo.

Um abraço,
Cerveja Monstro

21 comentários em “Pumpkin Ale Pesadelo”

  1. Cara, qual foi a quantidade de água utilizada na fervura e na lavagem?
    Você lembra pra me falar?
    To elaborando uma receita de Pumpkin mas não tenho muita experiência, ia usar essa como base!
    Valeu e parabéns!

    1. Oi Mauro,

      Usei 20 litros de água na mosturação e mais 15 litros na lavagem dos grãos. Essas quantidades de água podem variar de acordo com o seu equipamento, então vale a pena fazer alguns registros durante sua brassagem para você ir adequando seus processos às peculiaridades do seu set up. Eu só adiciono água na fervura para corrigir algo, por exemplo uma densidade muito maior do que o esperado, do contrário não adiciono.
      É bom você ir para a brassagem com os targets de densidade e quantidade de mosto pré e pós fervura, assim você consegue corrigir algo se for necessário e observa os pontos responsáveis por baixar sua eficiência, como a quantidade de mosto que fica retida dentro da panela abaixo do fundo falso por exemplo.

      Obrigado pela visita cara, se eu puder te ajudar em algo é só dizer.
      Abraço

      1. Derso

        Qual é a OG e FG estimada para esta receita?

        Vou fazê-la em minha próxima brassagem, deu água na boca só de ler a receita kkkk

  2. Adorei sua receita, vou fazer amanhã! Tu tem alguma dica extra (para facilitar a filtragem, caso tu ja tenha refeito ela)?
    Espero que fique boa, qdo estiver pronta te digo como ficou!

    1. Oi Suélen,

      Fiz outra da leva da Pesadelo e não tive problemas com a filtragem =D
      O que mudou da primeira versão para essa última foi o meu elemento filtrante (antes eu utilizava fundo falso, agora uso manifold). Além disso, utilizei grain bag para a abóbora e hop bag para as especiarias.
      Certifique-se de não deixar as especiarias empelotarem dentro da hop bag, isso pode diminuir o contato delas com a cerveja e reduzir sua eficiência.

      Acho que é isso, obrigado pela visita.
      Boa brassagem e boa cerveja.
      Abraço

      1. Ola! Li a sua receita e alterações no processo e fiquei com uma dúvida quanto ao Grain Bag.
        Você colocou o malte na panela e a abóbora, separada do malte, no grain bag?
        Obrigado!

  3. Oi Derso,
    fiz a minha pumpkin na quinta-feira, a principio deu tudo certo, fiou com u leve aroma de doce de abobora (delicioso), algumas coisas eu alterei, tirei a canela (pq eu não gosto) e não encontrei a pimenta da jamaica, então usei um isto de alguns tipos de pimentas desidratadas em uma menor quantidade.
    Hoje provei e já esta fermentando bem! também não usei o herkules, e sim um nothinghan!(pois estava em falta)

    Acredito que lembre a sua, mas com algumas pequenas diferenças!
    Queria saber Quanto tempo que vc deixou no fermentador e quais as TºC?

    Obrigado por compartilhar a receita! 😉
    Abraço,
    Suélen

    1. Oi Suélen,

      Que legal! esse aroma durante a brassagem é uma coisa realmente boa.
      Fico feliz que você não tenha tido problemas com a filtragem! 🙂
      Pimenta da Jamaica não é picante, você substituiu por qual tipo de pimenta? alguma picante?
      Nunca usei esse lúpulo que você mencionou, mas não acho que isso dê uma grande diferença no resultado final.
      Deixei no fermentador a 19C cerca de duas semanas. Depois de me certificar que a fermentação havia terminado, comecei baixar gradativamente a temperatura até chegar a 0C, isso por aproximadamente 1 semana para “limpar” a cerveja. Ao término dessas 3 semanas já dá para partir para a carbonatação, seja ela em garrafa ou em barril. Fico na torcida para que dê tudo certo por ai.

      Obrigado pela visita e quando provar sua versão da Pesadelo, por favor compartilhe conosco o resultado.

      Abraço

  4. Olá! Usei sua receita mas reduzi a quantidade de agua da lavagem para 12 litros. A minha OG ficou exatamente 1.053.
    Entrou na fermentação hoje. Vamos ver como anda agora. Obrigado por compartilhar.

  5. Derso, fiz a cerveja de abóbora seguindo como base a sua receita mas alterei dividi os maltes entre Pilsen e Pale Ale e acrescentei um pouco de malte de trigo. Alterei a proporção das especiarias e o resultado foi uma cerveja deliciosa. Obrigado pelas dicas. Postei uma foto no instagram: @cervejanofogao

    1. Oi Felipe,

      Minha ultima brassagem dessa receita já tem algum tempo e infelizmente não sobrou nada por aqui. Quero fazer outra brassagem da Pesadelo em breve, espero que não demore.

      Abraço

  6. Sou novo no ramo da cerveja e gostaria de saber algumas duvidas que surgiram.
    Quais os tempos corretos para adição dos lupulos?
    Qual a FG ?
    Gostaria de trocar a pimenta para a Dedo de moça vc poderia me informar a quantidade e se a mesma teria que ser desidratada.
    Obrigado

    1. Seja bem vindo Paulo, acho que esse é um dos ramos mais apaixonantes que você irá encontrar! 🙂

      Cara, em relação aos lúpulos eu geralmente coloco o tempo ao lado do item na receita, por exemplo na receita a primeira adição de lúpulo aparece como “15g Hallertau Herkules (60 mins)” isso significa que você deve fazer essa adição a 60 minutos do fim da fervura, já para “10g Noz moscada moída (1 min)” você deve fazer essa adição a 1 minuto do fim da fervura, ou seja, pouco antes seu fogareiro ou qualquer outra fonte de calor que você utilize.
      A FG estimada é de 1.012SG (vou alterar o post e inserir essa informação. Obrigado!)
      Sobre a pimenta dedo de moça eu tomaria MUITO cuidado, porque ela não tem absolutamente nada a ver com a pimenta da jamaica. Esta ultima é bastante utilizada em sobremesas e não tem nenhuma picancia. Eu nunca utilizei, por isso fica difícil fazer uma recomendação. =/ Eu começaria com uma quantidade muito pequena de dedo de moça, para nas próximas receitas ir aumentando se for necessário. Desta forma você não corre o risco de “matar” a cerveja caso ela fique picante demais.

      Boa brassagem!
      Abraço

Deixe um comentário para derso Cancelar resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *